Leme

Nota sobre o Golpe Militar de 1964

Aprovada em 28/março/2021

ícone relógio14/12/2021 às 23:35:25- atualizado em  
Nota sobre o Golpe Militar de 1964

NADA A COMEMORAR!

 

Em janeiro de 1945 o mundo respirava aliviado com a liberação do campo de concentração nazista de Auschwitz. 

Em 1988 o povo brasileiro saudava a promulgação de uma nova Constituição que consagrava direitos políticos e sociais até então inéditos no Brasil. Era o fim do regime autoritário, surgido através do golpe militar de 1964.

Assim como a história mundial não perdoa os nazistas e celebra os setenta e seis anos da liberação do campo de concentração de Auschwitz, aqui no Brasil não podemos nos calar frente à tentativa de comemorar o golpe que derrubou à força um governo legítimo e instalou um regime autoritário que cassou senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores e sindicalistas. Um governo que expulsou, prendeu, torturou, matou ou sumiu com os corpos de milhares de brasileiros, estudantes, professores, artistas ou qualquer um que se opusesse ao regime golpista. São brasileiros com os quais nos solidarizamos eternamente. Entre eles a Lemense Maria Augusta Thomaz.

Não há o que comemorar. O golpe foi dado para impedir que um governo realizasse democraticamente as reformas de base, um conjunto de mudanças que permitiria melhorar a vida da maioria da população como as reformas agrária, tributária e bancária, o contínuo aumento do salário-mínimo e a redução das desigualdades, a ampliação do direito do voto, o controle sobre nossas riquezas minerais, a redução da remessa abusiva de lucros ao exterior. Algumas dessas medidas contrariavam interesses americanos e, por isso, setores não nacionalistas das forças armadas se aliaram ao inimigo externo para impedir que a vontade do povo fosse atendida. Tudo isso usando o falso argumento de caça aos comunistas.

As consequências sociais e econômicas foram desastrosas. Em apenas três anos o salário-mínimo perdeu metade do seu poder de compra. Isso concentrou renda, riqueza e poder, o que foi a causa dos graves problemas sociais e econômicos até hoje não resolvidos. Apesar do PIB crescer no período, sustentado por empréstimos internacionais irresponsáveis e a juros exorbitantes, nossa dívida externa saltou de 8 bilhões de dólares em 1971 para 105 bilhões de dólares, em 1985. A ditadura plantou problemas que inviabilizariam o país nas décadas seguintes. Por isso abandonaram o poder, não por bondade ou respeito à democracia, mas por serem incapazes de administrar o caos em que deixaram o país.

Tudo isso só foi possível calando seus opositores, matando e torturando brasileiros inocentes, como por exemplo o jornalista Vladimir Herzog, que se apresentou voluntariamente à polícia. Este é um caso, mas há milhares de outros inocentes assassinados, como Anísio Teixeira, que hoje dá nome ao INEP do MEC, além das mortes suspeitas de dois ex-presidentes, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Outros foram aposentados ou calados, como Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, Celso Furtado e Paulo Freire. Enfim, um gigantesco esforço para promover uma voz única e na direção errada.

As forças armadas brasileiras deveriam se envergonhar disso. Mas parecem querer repetir a história, como tragédia e como farsa. Intimidaram ou deixaram que seus membros intimidassem o STF, evitando um julgamento justo de um ex-presidente honesto. Essa e outras ações – não apenas das forças armadas, mas de parte da imprensa e da Justiça do Brasil – levaram à eleição de um militar medíocre e mesquinho, que já havia sido punido pelo exército devido a atos de disciplina e deslealdade, defensor de regimes autoritários, da tortura, do assassinato de trinta mil brasileiros e de outras atrocidades.

As forças armadas deveriam se envergonhar de participar ativamente de um governo não apenas tecnicamente inábil, o que já seria grave. Mas as forças armadas se mostram também responsáveis pelo caos ao manter por meses no ministério um general da ativa que passivamente viu as mortes crescerem vinte vezes.

É vergonhoso que continuem a participar do governo ocupando milhares de cargos para os quais não tem competência técnica nem política e que apoiem um presidente incapaz de qualquer empatia com as mais de trezentas mil mortes causados pela Covid, mortes pelas quais em boa parte é responsável pelas ações e omissões que não precisam ser repetidas aqui.

Não há o que comemorar sobre 1964. Muito menos há o que comemorar num país que vê mais de três mil de seus cidadãos morrerem diariamente. 

Vergonha, generais. Vergonha!

 

Partido dos Trabalhadores
Leme-SP

 

28/MARÇO/2021

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